RISCO DE ACIDENTE DOMÉSTICO COM ÁLCOOL EM GEL

O álcool do tipo etanol, acompanha o homem desde sempre, muito antes mesmo do nascimento de Cristo. Basta dizer que, segundo a Bíblia, Noé – aquele do dilúvio, que viveu 4500 a.C. – certo dia foi encontrado pelo seu filho, embriagado e despido, após ter ingerido um derivado fermentado da uva. Dentro do estudo de Química, o álcool é o termo genérico usado para designar uma família de substâncias orgânicas de propriedades comuns entre elas.

Estão inclusos nessa família, etanol, metanol, isopropanol, glicerol, etilenoglicol, sorbitol, Xilitol entre outros.

O etanol obtido da cana-de-açúcar é amplamente usado como combustível, antisséptico, desinfetante e também faz parte da formulação do vinho, cerveja, whisky, gim, licores e a cachaça em percentagem característica de cada bebida. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) tornou obrigatória a adição 25% de etanol anidro na gasolina e também estipulou a concentração entre 95,1% e 96% de etanol hidratado, no combustível do carro a álcool.

Entretanto, o álcool em gel é composto de etanol 70%, Carbopol, Trietanolamina e Glicerina devidamente balanceados para produzir maior eficiência no uso deste produto como desinfetante. Com o advento da pandemia, muitas pessoas, infelizmente, começaram a fabricar o álcool gel caseiro, a partir do álcool vendido em posto de combustível, o que é proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), pois a simples mistura de produtos não garante sua eficácia como desinfetante.

Vale ressaltar também que não é verdade que se deixar álcool em gel dentro do carro exposto ao sol, fatalmente desencadeará um processo de explosão, como foi espalhado pelas redes sociais. Para que isso ocorra, a temperatura no interior do carro teria que estar acima da temperatura de autoignição do etanol, que é de 363ºC, totalmente impossível. É importante esclarecer que o álcool em gel, em temperatura ambiente, não pega fogo de forma espontânea. Há necessidade de uma fonte externa de calor para dar início à combustão.

O uso do álcool para limpeza em ambientes domésticos já faz parte da cultura brasileira. Muitas pessoas acreditam no seu poder de desinfecção, sem avaliar o elevado risco de causar queimaduras provocadas pela queima desse produto químico, principalmente envolvendo crianças. O maior risco do uso do álcool em gel está no ambiente doméstico. Por ser um composto químico altamente inflamável, que acaba sendo manuseado sem os devidos cuidados, utilizar o álcool em casa é correr um risco totalmente desnecessário. O velho e eficiente sabão, na versão em barra ou detergente líquido, além de ser mais barato, têm igual ou maior eficiência que o álcool em gel na proteção contra o coronavírus. Por isso é desaconselhável o uso do álcool em gel em ambiente doméstico.

De forma despreparada, a pessoa que após passar o álcool gel nas mãos e se aproximar do fogão ligado, corre o risco de desencadear uma combustão. O calor da chama evapora com facilidade o álcool das mãos untadas, e dessa forma, entra em combustão provocando indesejável acidente doméstico. Pior que essa chama é invisível a olho nu, dificultando a contensão de incêndios causados pelo álcool. Foi o que aconteceu com a adolescente Rhaiane Gabrielly de Arruda, de 13 anos, dia 29 de março de 2020. Ela teve queimaduras de primeiro e segundo grau, ao acidentar-se com álcool em gel, no bairro Altos da Serra, em Cuiabá/MT.

Infelizmente em todo o Brasil, milhares de crianças, todo ano, são hospitalizadas em decorrência de queimaduras com álcool. Esses acidentes geralmente acontecem quando adultos ou a própria criança, manuseiam o produto sem nenhum pré-requisito de segurança. Importante observar que nenhum frasco que contém álcool, tem trava de segurança, podendo ser aberto facilmente pelas crianças, que podem ingerir o seu conteúdo ou causar um incêndio em ambiente doméstico. Atualmente, com maior presença das crianças em casa, por conta da pandemia, os acidentes de qualquer natureza, são mais recorrentes. Em caso de queimadura com álcool, use somente muita água fria para esfriar o local.

Não use gelo nem qualquer outro produto. Leve sempre a vítima para o hospital.

Para evitar os acidentes pelo uso do álcool em gel recomenda-se:

  • Evitar de todas as formas ter o álcool em gel em casa.
  • Lembrar que a chama do álcool em gel é invisível a olho nu e você só perceberá o acidente, mediante o calor sobre o corpo.
  • Caso opte por levar álcool em gel para casa, lembre-se sempre de manuseá-los com especial atenção e de guardá-los em armários trancados.
  • Não deixe fósforos, isqueiros e outras fontes de energia ao alcance das crianças,
  • Faça sempre a opção, pelo álcool de baixa concentração, pois a dona de casa corre mais perigo na medida em que aumenta a gradação do álcool, tanto na forma líquida como em gel.
  • Para limpeza opte por produtos não inflamáveis existentes em grande escala no mercado.
  • Em ambiente domiciliar, lembrar que o sabão ou detergente líquido têm igual eficiência na eliminação do coronavírus.

Atento a isso, o Congresso Nacional vem discutindo a questão por meio de projetos de lei para proibir, de vez, a venda de álcool com fins de limpeza domésticos.

O importante é não deixar o álcool entrar em sua casa.

Faça a sua parte. Limpeza é importante, mas a segurança está em primeiro lugar.

Eng. Químico Noé Rafael da Silva
Conselheiro Suplente do CRQ XVI

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